Blanche's rebellion weblog. Beware...

24.1.05

Pois é, meu povo.
Eu estou tentando postar desde sexta-feira, mas o blogger tava de merda...
Em um momento puramente Paperstreetiano, eu quero contar os meus augúrios trabalhísticos aqui...
Era uma vez um amigo meu.
Ele me chamou, movido por puro desespero, para produzir um filme (afinal, de que outra forma alguém me chamaria para PRODUZIR um filme????)
O filme tinha uma peculiaridade: o roteirista era o diretor de elenco.
E aparentemente o roteirista era uma pessoa.... difícil.
O roteirista aparentemente queria fazer a decupagem...
Ele tinha 32 anos de teatro nas costas...
Só que ele nunca tinha feito cinema na vida.
(Pausa. Eu tendo a confiar mil vezes mais num nerd genérico que adora cinema mas nunca viu uma câmera do que num diretor de teatro genérico que tem muita experiência mas nunca viu uma câmera para decupar um filme...)
Ele fez TV. Um pouco.
Eu li o roteiro. Até a metade. Eu parei em "slow moshan"
Os dois começaram a discordar. O meu amigo tentava mudar a decupagem, mas o diretor de teatro não deixava.
O meu amigo desiste e sai. Eu que não ia ficar. Tenho que procurar emprego e ganhar dinheiro... aquele trabalho ia dar MUITO trabalho.
O cara me liga, querendo que eu continuasse. Eu explico porque não.
E, no dia seguinte, recebo o seguinte e-mail:

Andressa,
Em primeiro lugar, a boa notícia, consegui uma produtora pro filme.
Por favor, leia até o fim, pois o assunto é de relevância , tenho coisas para lhe dizer que são verdadeira e um preocupação minha que restou da nossa última conversa.
Andressa, achei você na primeira vez que nos falamos pelo telefone, uma pessoa que parecia ser encantadora, no sentido profissional e comunicativo. Até me perguntou qual era o meu signo. Então pensei: Que legal! Parece que pode ser uma nova amiga. Da mesma maneira que você me pediu para comentar o meu roteiro técnico, e seria sincera, gostaria de falar um pouco sobre o último telefonema.
Minhas impressões: - Aquela mesma pessoa que eu tinha conversado a primeira vez, já não era mais a mesma, pois tá na cara que o Beltrano não só apenas falou que eu era um ótimo profissional. A gente que tem anos de carreira, novelas, teatro, cinema, tem muita percepção, por isso senti que você é muito amável, inteligente, mas é
também a "mãezona" do Beltrano. Em nenhum momento comigo comentou a falta de ética dele. É claro, quando a gente gosta, usamos muito a emoção.
Em relação ao meu roteiro e que o Filme Olga, é pura televisão, sendo assim, ruim, percebi, talvez, que você seja, como várias outras pessoas, preconceituosa em relação a TV. Me desculpe se estiver enganado.
Não sei se é de seu conhecimento, pois mais do que nunca, o cinema já está dentro da televisão e a televisão dentro do cinema. A diferença que você diz que é grande, não é tanto assim, pois conversei com alguns cineastas, como por exemplo, Fabio Barreto, que você diz desconhecer, me deu mais credibilidade pois o meu roteiro técnico, evitando alguns cortes apenas, é maravilhoso e não tem nada de ser só pra televisão.
Uma pequena preocupação:
-Como o Beltrano demonstrou ser uma pessoa que eu não esperava, anti ético, anti profissional e um pouco desumano, fiquei também, confesso e me desculpe com um pouco de receio de você. Pois vocaê é meio "maezona" , me assustou o fado de que você desinformadamente, me dizer que textos registrados podem ser filmados e que depois paga. Conversei com alguns advogados de direitos autorais que me disseram que sua tese na opinião deles é violação da lei. E com o advogado dos herdeiros de Guimarães Rosa, vamos ficar de olhos abertos para quem sabe uma possível amostra do nosso enredo, pois neste país, muitos só copiam e nada criam. Não tenho a mesma grana que o Beltrano, porém tenho dignidade e assessoria jurídica gratuita mãe e primos são advogados e um tio desembargador.
Ah! Soube que os filmes da Estácio ainda são muito fracos. Teve um feito num motel com a Fabiana que eu soube que foi um lixo, eu não vi, mas me disseram isso. Mas isso é mais do que obvio, pois são todos acadêmicos. Sempre trabalhei com profissionais com prática, ia escorregar e "fui salvo pelo gongo" , pois acadêmicos tem opinião formada sobre tudo o que estuda, e acabam não abrindo a cabeça para novas coisas e para a criatividade, que na arte é fundamental. E para termos um resultado final excelente, temos que unir os dois, técnica (teoria) com a prática ( que libera a criatividade pelo conhecimento efetivado) . Neste trabalho, seu amigo perdeu a chance de unir o que ele aprendeu na teoria com a minha prática, para que ele pudesse começar a ter a prática de uma maneira profissional mais avançada, mas
já que teve medo de enfrentar este desafio e dividir os créditos comido, que continue aprendendo devagar com o pessoal da faculdade. Apesar dessa carreira mexer muito com o ego, é um trabalho de equipe. Temos que ter humildade e compartilhar.

Deus te abençoe

Abraço
Fulaninho de Tal


Eu respondo:

Fulaninho querido,

Achei você uma pessoa fantástica. Me entristece muito que você tenha desenvolvido opiniões tão errôneas sobre a minha pessoa. Quanto ao Fabio Barreto, você deveria ter me dito que era o diretor do Quatrilho e de a Paixão de Jacobina (ou estou enganada?)... Como eu disse, sou péssima com nomes... :) hehehehe.

Segundo... No telefone você disse que eu tinha ficado magoada. Estou novamente reiterando que não, mesmo porque não tenho razão para tal. Aparentemente, toda essa novela magoou muito mais os seus sentimentos do que os de qualquer outra pessoa (a julgar pela carta ressentida que eu recebi de você). Sinto muito por isso, e peço desculpas se eu o magoei de qualquer forma.

Quanto a preconceito, nunca tive nenhum contato pessoal com Fabio Barreto, mas já tive algum com um outro Barreto, o Marcelo, aquele que dirigiu "Pantanal". Eu era fã do trabalho dele e ele e a minha mãe foram muito próximos na juventude. No final das contas eu admiro muitos dos trabalhos de tv. Não tenho preconceito. Só acredito que
quando você faz cinema você deve aproveitar o que o cinema te oferece de bom e o que é diferente em relação à TV (como o próprio Fabio Barreto faz).

Desculpe-me a sinceridade, mas estou triste, pois lendo e relendo o seu texto, não consigo ignorar o rancor que ele passa. Chego a pensar que não deveria ter conversado tanto com você... (isso acontece mais freqüentemente do que deveria, uma vez que, como eu disse anteriormente, digo tudo sem rodeios e falo estritamente a verdade. As pessoas não estão muito acostumadas com o meu jeito direto.) Devo ter
te machucado de alguma forma, mas não foi a minha intenção. Só queria ajudar.

Quanto ao filme da Estácio ao qual você se referiu, acho que sei qual é. Se for o que eu penso, ele foi exemplo em aula de um dos meus professores favoritos de "o que NÃO fazer". Quanto às outras produções da Estácio, o último filme que eu fiz este semestre foi dirigido por uma aluna que acabara de ganhar um galgo em Gramado com... adivinha? Um filme que ela fez na Estácio.

Quanto ao que eu lhe falei sobre direitos autorais, é só um "jeitinho" que algumas pessoas dão. Nunca fiz nada parecido, então não posso lhe dizer precisamente como funciona, mas bem... é natural que os seus advogados não saibam muito sobre o assunto, eu acho. Bom, whatever, foi só uma explicação do porquê eu não registro cada vírgula que eu escrevo.

Quanto à sua carta, ela mostra que Beltrano não estava sem razão em dizer que você o chamou de incompetente e amador (aqui devo repetir que não ouvi isso da boca dele, mas da sua), como no seguinte trecho: {{Ah! Soube que os filmes da Estácio ainda são muito fracos. Teve um feito num motel com a Fabiana que eu soube que foi um lixo, eu não vi, mas me disseram isso. Mas isso é mais do que obvio, pois são todos acadêmicos. Sempre trabalhei com profissionais com prática, ia escorregar e "fui salvo pelo gongo" , pois acadêmicos tem opinião formada sobre tudo o que estuda, e acabam não abrindo a cabeça para novas coisas e para a criatividade, que na arte é fundamental. }}

Novamente, me entristece muito que você pense assim. Fico imaginando se a minha colega que ganhou um galgo lesse isso, o que ela pensaria de você. No entanto, eu sei que você não deve realmente pensar assim. Afinal, você conhece arte, tem 32 anos de experiência. Acredito que suas emoções o levaram a um lugar triste e rancoroso.

Sugiro que você procure pessoas em quem possa realmente confiar para fazer um bom
trabalho. Tenho certeza que você encontrará profissionais experientes que apostarão no seu projeto. Gostaria de lhe pedir também para, quando isto acontecer, esquecer
tudo o que lhe disse. Cada pessoa trabalha de uma forma e, já que a forma demonstrada não lhe agradou, a melhor coisa para o bem do projeto é você encontrar uma que agrade. Creio que, uma vez que você já conseguiu uma produtora (aliás,
parabéns!) e que o projeto parece estar novamente encaminhado, devamos deixar de lado toda essa conversa pessoal. Espero que o nosso próximo contato seja de teor profissional, afinal, somos profissionais, não somos?

Desejo-lhe, de coração, toda a sorte do mundo,

Andressa


Aiai... dá até vontade de não sair mais de casa....

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