Blanche's rebellion weblog. Beware...

13.3.06

Pausa para crítica de Cinema


Pois é...
O blog ficou parado por TANTO tempo que agora eu só tenho uma pessoa visitando e mesmo assim só quando eu aviso que postei. (Oi Caike!^.^)

Eu resolvi hoje fazer uma pausa nas atividades já bastante pausadas do blog para uma reflexâo derivada de um filme que eu vi novamente este fim de semana e de uma aula que eu tive hoje na faculdade.

O nome do filme é Butterfly Effect, que eu vi, originalmente, no cinema.

Eu cheguei à conclusão que, não importa quantas vezes eu assista esse filme, eu sempre vou ficar pelo menos uma semana me lembrando das cenas e considerando cada ação da minha vida em relação às conseqüências com todo o resto.

Hoje eu tive uma aula de dramaturgia, na qual a professora resolveu definir - errado - o que era catarse. Infelizmente, exatamente como aconteceu em uma discussão sobre democracia e anarquia, as pessoas tendem a moldar as definições próprias delas das coisas e basear o conhecimento sobre a essência da coisa, o que é, o que a define e o que não a define, através de suas próprias experiências pessoais. Até aí não há mistério. Nunca a percepção de mundo deixou de ser subjetiva. A questão é que as pessoas têm o mau hábito de desconsiderar como outras pessoas entenderam, ou mesmo desconsiderar o que há sobre a própria coisa. Assim, fica fácil criar a sua própria versão do Marxismo. Mas você leu Marx?

Ao me colocar para pensar sobre a catarse, voltei instantaneamente para o filme, e percebi que ele é um excelente exemplo moderno da catarse grega antiga.

Muitas pessoas acreditam que catarse é uma experiência de enlevo na qual você sai de si mesmo, no sentido de que a sua consciência se dilui. Ou então que identificar-se com um personagem é uma experiência catártica, o que também é uma versão bastante distorcida da realidade.

Catarse é, pela definição grega, a absorção de conhecimento, através de uma experiência de identificação, pela pena e medo. Traduzindo, vemos o herói trágico, vemos que ele sofre, sofremos com ele. Identificamos nele nossas falhas humanas, nossos pecados, nossas faltas, e conseguimos nos colocar em seu lugar. Sentimos pena e compaixão por uma pessoa, humana, com alguma falha grave, mas genericamente boa, que comete um erro. Este erro, como quase todos na vida, é irreversível e desencadeia uma série de acontecimentos que apontarão, eventualmente, para sua ruína. A catarse é uma vacina. É um sofrimento pequeno, para previnir um grande. Não à toa as tragédias gregas não tinham mais de meia hora. Sua estrutura era feita para ser tensão e sofrimento sempre crescentes. Ninguém resistiria àquele nível de stress por tanto tempo, e os gregos meio que entenderam isso realmente rápido. Tanto isso era verdade que, ao ressucitar a idéia de tragédia, Shakespeare teve que adaptá-la para que a platéia suportasse os nada breves 5 atos presentes em suas obras (as tragédias, em específico). Ele usou como recurso o alívio cômico, de forma que o desconforto do espectador fosse atenuado e que ele agüentasse chegar até o fim da história.

Butterfly Effect é um filme altamente catártico neste preciso sentido do termo. Por mais que você procure abstrair, as lições do filme marcam seu espectador a ferro e fogo, e é impossível assisti-lo sem pensar nas conseqüências dos seus próprios atos, por mais simples que eles pareçam. Como as tragédias gregas, ele não mede recursos para causar no espectador a catarse, e vemos em Evan a mesma falha do que em Édipo: o orgulho, a crença de que ele tinha em si o poder de mudar as coisas para melhor. Ele, como Édipo, vai em busca do conhecimento do seu passado e, contido nele, o conhecimento de si mesmo, pois acredita que só através desta experiência será capaz de desvendar o mistério que o cerca, e toda a questão que envolve seu pai, sua memória e sua vida.

Assim, uma grande dica para um grande filme para quem ainda não viu. E quem já viu sempre pode ver de novo. Em obras assim há sempre mais coisas a descobrir. Elas nunca se esgotam, pois exploram o ser humano em muito mais do que se propõem a fazer. E o ser humano é um terreno deveras inexplorado, a despeito de todas as tentativas.

A notícia triste é que estão fazendo um sequel, Butterfly Effect 2. Filmes bons assim simplesmente não deveriam ter sequels, devia ser proibido por lei!

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