Blanche's rebellion weblog. Beware...

6.7.05

Continuando a saga....

Ok... isso é realmente, realmente estranho.

Ângela já tinha passado pela maior academia que já vira, equipada com os aparelhos mais hi-tech do mercado, uma sala de meditação com um indiano maluco e um moleque, um mezanino com dois computadores que tinha quatro vezes o tamanho do seu apartamento inteiro, um aparelho que ela deduziu ser um simulador de vôo em situação de gravidade zero*, um centro de treinamento de tiro ao alvo**, e corredores e mais corredores com janelas de vidro, portas trancadas e salas escuras.

O maior problema de andar no prédio eram as câmeras. Aparentemente elas eram sensíveis a calor, porque não importava onde ela se materializasse, a câmera rapidamente se virava para ela, e ela já estava ficando cansada do esforço físico equivalente a ficar pulando de um canto do corredor para o outro.
Finalmente ela conseguiu entrar num quartinho de material de limpeza e se agachar entre as vassouras e esfregões para poder pensar.

Hm... nada disso faz sentido. Ou eu estou numa dimensão paralela ou isso é um daqueles prédios de desenvolvimento de tecnologia bélica.... Mas o que um prédio desses está fazendo no centro da cidade???? Será que o governo da Argentina está metido nisso? E eu nunca acreditei quando o menino da xérox falava que existe uma conspiração argentina para tomar o Brasil... E o pior é que eu nem engano falando espanhol... É melhor eu achar um jeito de sair daqui e rápido...

Ângela decide abrir a porta do quartinho lentamente para garantir que não havia ninguém transitando no corredor nem observando por trás do enorme janelão de vidro que dava para uma grande sala escura logo em frente ao quartinho. A porta vai abrindo sem fazer barulho algum, e ela vai se esgueirando sorrateiramente para espiar pela fresta. A primeira coisa que ela repara é que que a enorme sala, que estava toda apagada quando ela se escondeu, agora tinha dois monitores acesos, e, por sorte, duas pessoas viradas para eles, e conseqüentemente de costas para ela.

Foi neste momento que o clarão apareceu. Mal tinha a luz alcançado os olhos de Ângela e a deixado cega, um estrondo sacudiu não só o chão, as paredes e o vidro, como também os esfregões e vassouras, que reagiram desprendendo-se da parede e caindo furiosamente sobre a cabeça dela.
Sua única reação foi tentar fechar a porta, o que era no momento impossível, uma vez que cabos de vassoura se projetavam para fora, e sua visão ainda não tinha voltado. Neste instante ela ouve o abrir de uma porta e uma voz ao longe:

- E aí, Jorge?
E uma voz muito próxima:
- Nada. Só algumas lâmpadas desencaixadas, uma câmera pifada e as vassouras do quartinho de limpeza. Mas ainda assim tá muito forte. Vê se você diminui a intensidade dos raios beta-6 aí!

A visão de Ângela estava voltando lentamente. Agora ela podia ver na meia-luz do quartinho que uma dúzia de caixas de papelão com rolos de papel higiênico tinha caído sobre ela. Ela resolveu afastar as caixas para começar a se mover novamente. Ao pegar uma das caixas, Ângela reparou num relevo na lateral e decidiu aproximar aquele lado da caixa do feixo de luz. Em alto-relevo estavam gravadas no papelão as letras "A", "I" e "B".

Em um outro canto do prédio, Diego estava chegando à conclusão que ser um dos agentes de segurança interna da Agência era o único cargo dentro daquela instituição que era perfeitamente condizente com a fama do serviço público brasileiro. Seu Antônio, o agente semi-aposentado*** que cuida da observação das imagens fornecidas pelas incontáveis câmeras espalhadas pelo prédio, estava, aparentemente, há mais de meia-hora em busca da D. Wilma, a onipresente-só-quando-quer tia do café.
Diego resolveu permanecer naquela sala porque observar as câmeras parecia uma idéia melhor do que simplesmente procurar a esmo. No entanto, não só o número de telinhas era incontável, como também era necessário fazer um dos workshops da Agência**** para conseguir prestar atenção em cada uma daquelas telas naquele mar de imagens preto-e-branco. Cansado, ele resolveu sentar no chão em frente às telas, esperando por um sinal. Foi então que ele viu que uma das telinhas ficou totalmente preta. Ele se levanta, tentando decifrar o código para a localização daquela câmera.

- O quê você está fazendo aí, meu filho?

Diego se vira e vê Seu Antônio, com três copinhos de café.

- Ahn... só me diz uma coisa, que câmera é essa?
- Essa aí? Ih, pifou de novo? É a do setor F-65, lá no décimo-sexto andar...
- Valeu!

E Diego sai correndo em direção ao elevador.

- Espera aí.... é que eles estão testando uma nova bomba térmica e...

Mas Diego não ouvia. Ele chegou ao elevador e apertou o número 16, coberto de ansiedade.




* Tinha um alce flutuando dentro do simulador, mas ela supôs que isso só podia ser algum efeito holográfico.
** Só que os alvos eram particularmente estranhos. Ela viu um com formato de polvo, um que era uma serpente gigante, um que lembrava vagamente um baú com pernas... mas o mais assustador era, de longe, um que parecia um boneco de marshmellow gigante.
*** Às vezes um agente se aposenta por tempo de serviço, às vezes por ferimento em campo, e às vezes por trauma (que nem o Sr. Duhalib conseguiu dar jeito). Muito raramente os últimos sofrem um tipo muito esquisito de conflito interno devido ao senso de dever que anos e anos de Agência impõem à pessoa e, nestes raros casos, é mais fácil dar um cargo inofensivo a estes ex-agentes do que destacar agentes efetivos que têm muito mais o que fazer só para impedir que as técnicas de invasão de propriedade secreta governamental da agência sejam usadas pelos ex-agentes para invadir a sede com a singela intenção de "ajudar" seus colegas.
**** A Agência tem workshops como "Invadindo uma plataforma e roubando um avião", "351 maneiras de usar um disfarce", "Curso rápido de ameaças em finlandês", entre outros. O workshop que o Sr. Antônio teve que fazer foi "Fixando sua atenção em 2037 pontos ao mesmo tempo". Este é, por coincidência, o número de câmeras de segurança ligadas 24hs dentro da Agência.

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