Blanche's rebellion weblog. Beware...

30.9.05

Já troquei o que me incomodava muito. Vamos ver se fica assim....:

O Alce, o Coala e o Vento



Pó.

- O que foi isso, moleque?
- A porta.
- Que porta?
- A porta da Ângela.
- ... E por que ela bateu a porta?
- E eu sei lá?
- Deve ser TPM...
- Bom... de bom humor ela não tava. Tava resmungando horrores no caminho pra cá.
- Resmungando? O que que vocês foram fazer com o Dr. Moura afinal?
- Ah, a gente foi investigar um tal de Hermano Castro. Aparentemente ele tem a ver com o laboratório que a gente invadiu...
- Ah, já sei quem é. Cês pegaram o cara?
- Pegar a gente pegou. Mas o Dr. Moura não deixou a gente trazer o cara pra cá não.
- Será que é por isso que ela tá de mau humor?
- Não. Eu acho que tem alguma coisa a ver com o Dr. Moura estar preparando mais duas missões pra gente. Acho que ela não gostou que ela não vai fazer muita coisa.
- DUAS MISSÕES? Ele tá achando o quê, que vocês já podem sair assim, sozinhos?
- Credo, Alce. Olha, a gente se deu muito bem nessa missão, tá? Todo mundo ficou impressionado.
- Eu vou ter que conversar a sério com o Dr. Moura...

No dia seguinte, Dr. Moura convocou Diego, Alcebíades e Ângela para um café-da-manhã informal no refeitório da Agência. Alcebíades, como sempre, mandou uma cópia e chegou primeiro. Dr. Moura chegou com Romi logo depois, e Diego apareceu novamente atrasado. No entanto, ele não era o mais atrasado. Já passavam quinze minutos do horário marcado, e Ângela não aparecia.

- Alguém sabe o que aconteceu com ela?
- Tava de mau humor ontem.
- TPM. Mulheres são volúveis. Por isso é que elas não são boas agentes.

Romi virou sua esfera de cima para Alcebíades. Mesmo sem rosto, não era necessário ser mediúnico para sentir o peso de seu olhar de reprovação.

- Você tem que ser mais cavalheiro, Alcebíades.
- Crunchcrunchcrunch...

Todos olharam para Diego, que mal chegara, começara a mastigar furiosamente um pouco de tudo que via pela mesa.*

- Quhe phooi? - disse ele com a boca cheia.

Neste momento Ângela entra refeitório adentro. Seus cabelos estavam soltos e molhados. Vestia uma blusa preta e uma calça jeans, além da cara de poucos amigos.

- Bom dia, Ângela.

Ela se sentou, respondendo apenas com um aceno de cabeça.

- Bom. Agora podemos começar. Alcebíades, nós finalmente terminamos de avaliar o conteúdo dos arquivos que o Diego e a Ângela tiraram do escritório de Hermano Castro. Eu tenho uma notícia para você.
- Fala.
- Estamos mais perto do Daniel do que imaginávamos. Encontramos plantas de uma base, além das instruções de um dispositivo de teletransporte que deve levar diretamente a esta base. Eles devem estar usando a tecnologia dos pais da Ângela para fazer esse dispositivo funcionar. No entanto, este dispositivo tem um defeito.
- Hm.
- Ele é pré-programado. Isso quer dizer...
- Quer dizer que eles não podem se mover para onde querem. - completou Ângela.
- Sim, querida. Você sabe como o seu teletransporte funciona?
- Acho que sim. Eu desejo muito estar em outro lugar, e foco no lugar aonde quero estar. Por isso é tão difícil eu me teletransportar para lugares que não conheço. Eu não consigo focar direito.
- O que aconteceria se você se teletransportasse pro meio de uma parede? - perguntou Diego.
- Ela provavelmente morreria atravessada pela parede. Teoricamente, existe a possibilidade de que ela perceba que é uma parede antes que o seu corpo termine de se materializar, mas é muito arriscado, eu nunca soube de uma real tentativa...
- Perceber que é uma parede...? Eu mereço.**
- A consciência é a última que sai, e a primeira que chega. Ela se movimenta mais rápido que todo o resto no teletransporte. Pelo menos é assim comigo. Não sei como acontece com quem é teletransportado.
- Seja como for, Dr. Moura, eu acho que é muito legal o senhor ficar dando missões para eles, mas eu acho que o senhor andou sendo muito irresponsável na minha ausência. Eles claramente não estão preparados...
- Você tomou um tiro na testa, Alcebíades. É melhor você admitir de uma vez que contra o Daniel você vai precisar de ajuda.

Alcebíades se levantou.

- Eu!!! Eu nunca precisei de ajuda contra aquele...

Dr. Moura colocou as mãos lenta e firmemente sobre a mesa. Apoiou-se nelas e se levantou. Mesmo sendo bem mais baixo que Alcebíades, o agente mais velho impunha respeito de tal forma que ele foi forçado a se sentar.

- Você ainda segue ordens minhas. Se você me ouvisse, não teria ficado inutilizado por 2 semanas e poderia estar presente na invasão do escritório de Hermano Castro. Você não estava lá quando nós precisávamos, Alcebíades, e eu não vou mais me dar ao luxo de ter você inconsciente... ou pior.

Diego olhava de um para o outro como se fosse um jogo de pingue-pongue.*** Ele nunca havia testemunhado ninguém passar um sabão tão grande no Alcebíades. Ângela brincava com um guardanapo, fazendo-o desaparecer e reaparecer junto com a sua mão.****

- Bom. Ângela. Uma vez que nós descobrirmos onde fica a tal base, eu preciso que você estude todo o material sobre ela para conhecê-la toda por dentro. Você tem que colocar o Diego e o Alcebíades para dentro, e uma vez lá, deixe que eles façam o trabalho.
- Não.
- Ahn?
- Cansei de ser burro de carga.
- Quê?
- Não sou meio de transporte. Quero fazer um trato com você.

Dr. Moura parou por um instante.

- Ontem fez treze anos que meus pais morreram. Eu quero achar os responsáveis pela morte deles. Onde está aquele energizante? Eu posso transportar todo mundo para dentro, mas me recuso a fazer só isso. Eu quero acesso às informações que dizem respeito aos meus pais.
- Você tem idéia do que está pedindo?
- Tenho. Eu posso morrer, eu posso me machucar, eles podem me prender, me torturar, me usar como cobaia... Eu aceito o risco.
- O quê você pretende fazer quando encontrá-los?
- Eu não sei. Provavelmente só vou pedir que sejam presos. Eu já sei o que você vai dizer, que nada vai trazer os meus pais de volta. Eu sei disso. Mas quero olhar nos olhos deles, quero saber. Preciso saber.
- Muito bem. Nós conversaremos sobre isso depois. Diego, você consegue se lembrar do cheiro do Daniel?
- Ahn? É... consigo. Er... é, consigo.
- Alcebíades. Você vive dizendo que sozinho é um exército.

Alcebíades ainda estava lambendo seu orgulho ferido num canto. Ele apenas olhou para Dr. Moura.

- E...?
- Prepare-se. Você vai ter um exército à sua altura dessa vez.


* Se transformar periodicamente em koala despendia muita energia. MUITA. MESMO. Se a dieta de um ser humano normal alcança aproximadamente 2.500 calorias, a de Diego deveria ser pelo menos o dobro. Pelo menos era isso que o pessoal do refeitório achava, dadas as 8 refeições diárias que o moleque fazia sem engordar.

** As pessoas na Agência estavam começando a achar que Alcebíades tinha voltado do além-vida ainda mais reclamão do que de costume. O estagiário da xérox já imitava o Rabugento toda vez que o via. Felizmente, Alcebíades não prestava atenção. Da última vez que o estagiário o irritou, Alcebíades desenvolveu uma alergia nervosa, com conseqüências catastróficas. Ninguém queria uma manada de alces correndo solta pela Agência. De novo.

*** Ele gostava de assistir jogos de pingue-pongue. Ele tentou jogar uma vez, mas na primeira bola perdida, Diego entrou em fúria, virou um koala... e acordou 5 horas depois, com a mesa destruída e irreconhecível, bem como seu adversário.


**** O truque era ela se transportar para o mesmo lugar, com exceção da mão, que trocava. O teletransporte tinha que ser bem rápido, de forma que apenas alguém muito observador pudesse perceber a fumaça ao seu redor, e parecesse que só sua mão se transportou.

Nenhum comentário: