Blanche's rebellion weblog. Beware...

27.8.04

Sem reservas,
Sem máscaras sociais,
Sem hipocrisias.

Minha avó morreu hoje.
Eu tenho uma noção muito forte de família. O único problema é que, em toda a minha vida, eu nunca tive uma de fato. Minha família sempre foi eu e a minha mãe. Meu pai saiu de casa quando eu tinha oito anos, e ele não estava muito em casa anyway antes disso. Minha tia podia ser superficialmente legal às vezes, mas profundamente psicótica na maioria do tempo. E a minha avó.... Bem, a minha avó sempre, irredutivelmente, significou problemas.
Ela era uma pessoa que só considerava a família quando precisava de ajuda. Minto. Quando precisava de um escravo para fazer alguma coisa. Afora isso, ela estava fazendo o que mais gostava, que era sair com os amigos, badalar, e sobretudo, viajar.
Minha avó era uma excelente amiga. Eu gostaria muito de tê-la tido como amiga. Se você fosse um amigo, ela lutava por você até a morte, pagava tudo para você, fazia e acontecia. No entanto, no quesito avó, ela meio que não tinha nascido para isso. Ela não nasceu nem para ser mãe, e o foi muito a contragosto... Quanto mais avó.
Conseqüentemente, eu não posso dizer que os meus laços afetivos com ela fossem estritos o suficiente para mourn her passing mais do que a daquela menina do acidente de carro que eu, PB, Giu, Dragos e Vicente presenciamos. Talvez ainda menos, porque aquela menina tinha a vida pela frente, e provavelmente mais gente que gostava dela do que a minha avó. Sim, porque depois que ela ficou doente não podia mais sair para badalar e comprar coisas para os amigos, ou oferecer viagens 'tudo-pago' e etc... eles meio que foram lentamente desaparecendo. Verdade, muitos deles morreram também. Mas eles desapareceram antes.
No entanto, eu me segurei bastante para não chorar, indo sozinha no ônibus para a casa dela. Mas eu não choraria porque ela não está mais aqui. Eu choraria pela constatação de que eu, uma chorona inveterada, que preza terrivelmente laços emotivos, não tinha conseguido ver nela (por mais que eu tentasse, e eu tentei) uma avó. Ela não era nem uma daquelas avós más que no entanto inspiram respeito e admiração. Eu posso até dar o benefício de que ela não tinha um coração mau, mas não posso fugir da idéia que ela tinha um coração, no mínimo, egoísta.
Minha mãe e minha tia tentaram por muito tempo ganhar a confiança, admiração e respeito dela. Tudo o que levaram foi patadas, e estas sem nenhum propósito educativo. Era assim porque era, porque ela não sentia nenhuma necessidade de se importar com quaisquer pessoas que não fossem os amigos que ela escolheu naquele momento para fazer tudo.
Isso fez muito mal para a cabeça de ambas as filhas.
No entanto, eu fui criada meio que distante, alheia, e portanto, com algum senso crítico sobre aquilo tudo. A criação que a minha mãe me deu até os 13 anos (porque desde então ela mudou muito.... coincidentemente, essa foi a fase que a minha avó começou a ficar doente) me impediu de ver todos aqueles discursos como algo inquebrável, todas aquelas armadilhas como algo inevitável, e todo o tempestuoso clima de intrigas que a minha avó criava ao redor dela como algo inexorável.
Então eu ia lá e, quando me davam espaço, eu dizia exatamente o que eu achava, não me importando com as regras de etiqueta da família Burlamaqui.
O fato de eu não levar em conta o que elas iam ficar pensando de mim eventualmente me valeu excomungação e uma quase terceira guerra mundial.
Então não, eu não posso dizer que vou sentir falta dela.
E não achem isso frio da minha parte, pois não há nada de menos frio do que isso.
Na verdade, eu não vou sentir falta dela... porque não posso sentir falta de uma avó que eu não tive.
E isso sim, é capaz de me fazer chorar durante os ritos fúnebres Burlamaqui. E então as velhas maldosas da minha família não vão ter o que dizer, pois eu estarei chorando.

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